A Menina Que Se Chamava Pulga

Era uma vez uma menina que se chamava Pulga.
Ela não era como as outras meninas. Quer dizer, quase... gostava de
muitas coisas que as outras meninas gostavam, como brincar de bonecas,
de casinha, de escola, de amarelinha e ia para escola como as outras crianças.
Só que essa menina era diferente... quando ela estava de boca fechada, era normal como as outras crianças: na aparência física era como todas pessoas, com uma cabeça, dois braços, duas pernas, enfim um corpo humano!!!
Vestia-se como uma menina da sua idade, tinha pais, irmãos, parentes e vizinhos ao seu redor, é claro.
Ah! Mas quando ela abria a boca... ERA UM TERRORRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR.
As pessoas ficavam olhando para ela, como se fosse um ser de outro mundo. É, naquele momento em que a menina abria a boca, era como se o mundo parasse e só existisse ela falando, quer dizer tentando falar. Isso mesmo, tentando falar... pois ela não conseguia conversar, se não fosse assim:
- MEU, MEU, NO NO ME ME É É PUL PUL GA GA...
Isso mesmo, o nome dela era Pulga!
Ufa! Após muuuuuuuuuuuuuito tempo a menina conseguia acabar de falar, quer dizer gaguejar, é esse o nome dado para quem não consegue falar como as outras pessoas.
E cada vez, que a menina acabava uma frase em qualquer lugar que ela estivesse, parecia que levava muitas horas para dizer o que queria. . E quando Pulga acabava de tentar falar e olhava para as pessoas ficava triste, triste... porque as pessoas, riam do jeito que ela falava, ou faziam umas caretas esquisitas, como se perguntassem com um ponto de interrogação no rosto:
- O que é isso???
A menina saía dalí, se sentindo uma pulga... é uma pulga.... sim, aquele parasita que suga o sangue de gente, cachorro....
Entenderam o nome de ela ser Pulga?
Ela se sentia muito pequena....
Então, os anos passaram e a menina foi crescendo ... gaga
É gaga!
Sabe o que ela fez?
Pensou, pensou e resolveu que não esconderia mais ninguém que era gaga!
Claro que foi muito difícil, viver assim, mas ela não teve outra escolha, a não ser aprender que tinha que conviver com a sua gagueira e com a condição de ser pulga, nesse universo tão maravilhoso.
Sim, uma pulga!!!
Ainda por cima uma pulga gaga!!!
Pelo menos era uma pulga diferente....
Universo maravilhoso.... isso mesmo, apesar de ficar triste, a menina que já estava crescida, gostava da natureza, das pessoas e claro das pessoas que não riam dela, enfim, não deixava de sorrir para a vida.
E ela tinha um sonho... de falar como as pessoas falam:
-Bom dia! Como vai?
Aliás, realmente, até nisso, a menina era diferente... enquanto milhares de pessoas sonhavam em casar, ter filhos, ter dinheiro, cursar faculdade, viajar para outros países... a menina só sonhava em parar de gaguejar e deixar de ser uma pulga.
Como já foi contada, a menina cresceu e ficou gente grande... gaga!!!
Mas na história a narradora ainda prefere chamá-la de menina, sim, aquela menina, pois ela se sentia por dentro apenas uma menina, sim, aquela menina, que sempre falava esquisito, que parecia que falava outra língua estrangeira para as pessoas.
E o sonho continuava... deixar de ser gaga.
Apesar de a menina achar que era algo impossível, ela continuava a sonhar... e só de sonhar era maravilhoso!
Até que um dia... surgiu aquela tão sonhada fada madrinha.... sim... veio com a varinha de condão e tudo!
E depois de TRINTA ANOS, ela parou de gaguejar!!!
Aí não parou mais de falar com as pessoas! Falar mesmo, de verdade, pausadamente... descobriu que realmente estava começando a viver o seu sonho: deixar de ser gaga!
AHHHHHHHH! Não me chamo mais Pulga, meu nome é Cláudia.